Meu Fidalgo!!!
Tenho um Quixote. Me faz sentir, confesso, certa vergonha por não acreditar em idealismo, não ter nenhum. Faz sentir vexado, uma estranho dentro de mim mesmo que fui moldado pela vida no cinismo (filosófico), e tenho pés calejados dos pedregulhos do caminho real, esse de quase 68 anos passados de pés firmes no chão. Mas é que o meu Quixote me faz sentir orgulho imoral de tão grande, porque ele acredita. Porque ele crê que é possível trocar o presente pelo futuro e realizar somente o que pode haver de melhor, ele me ensina a confiar no seu julgamento. Ele crê que sonho vira realidade, tanto o de cada um quanto o dele próprio, se sair do medo e da inércia, e se alguém disser a quem tem medo e inércia, que é possível. Eu não creio assim. E o invejo por crer. O meu fidalgo, cavaleiro errante, cavalgará por aí para contar do seu ideal de democracia, que somente advém da liberdade, de conquistas meritórias de cada indivíduo, para quem quiser saber, como ele sabe que é possível a soma de cada esforço gerar a sociedade de confiança. Porque Quixote, ele acredita no épico desafio de construir a própria história, e que esta é, por si, a glória maior da vida. Porque não tenho tanta crença, temo que ele, o meu Quixote, se decepcione bem mais do que já está - decepção que o levou à decisão radical de zerar essa parte da sua história, uma trajetória de sucesso que começou apenas com o sonho, o seu ideal. Mas, pela natureza do que por ele sinto, é que pela primeira vez desejo profundamente estar errado, errado na minha não-fé - não nele, mas na capacidade de os outros entenderem e respeitarem suas escolhas pessoais. Este é meu pedido de Natal, de Ano-Novo. Desejo errar. Porque é benéfico, extremamente benéfico para a civilização deste país que já foi o Brasil, que meu cavaleiro errante esteja certo. E que haja conserto, ponto de volta, recomeço, futuro bom. Mas também creio do fundo da razão que emula cada uma das minhas emoções, despertadas por mim mesmo ou pelo meu Quixote (em mim) que, se é minimamente possível, então ele pode. Só ele pode somente ele é capaz. Ele é Quixote. O meu. "Pela liberdade assim como que pela honra, se deve arriscar a vida. O cativeiro é o maior mal que pode acudir aos homens." Cervantes.